Ana, uma amiga ou uma inimiga?

18:29


Apelidada de Ana, a anorexia nervosa ganhou espaço no mundo virtual. Em sites que exibem mulheres magérrimas como padrão de beleza, estão as atenções de adolescentes e jovens adultas. Tais sites são criados para incentivar o comportamento base do transtorno de anorexia nervosa: a inapetência. O objetivo dessas jovens: serem magras a qualquer custo.O que tais mulheres desconhecem, infelizmente, é  que a anorexia pode custar a própria vida.


Alvo de preocupação dos profissionais de saúde, a Anorexia Nervosa está entre os transtornos mais comum em adolescentes do sexo feminino, fazendo comorbidade com a depressão e outros transtornos mentais, com altas taxas de mortalidade. Insisto: a Anorexia pode causar a morte da adolescente.

Um comportamento é considerado "problema" quando sua ação gera uma consequência que prejudica a própria pessoa ou outrem. Assim, quando o desejo de ser magra torna-se uma obsessão, com pensamentos recorrentes e persistentes referentes à alimentação e dor e sofrimento, precisamos estar atentos.

Derivado do latim, o termo anorexia significa “perda de apetite”. Na prática clínica, o que sabemos é que inapetência nada tem a ver com o apetite sendo, na verdade, consequência do desejo obsessivo de ser magra, de baixa autoestima, distorção de imagem corporal e questões familiares.

Assim, a Anorexia Nervosa é um transtorno alimentar, caracterizado pela resistência do paciente em manter um peso muito baixo para sua altura e idade, associado ao medo excessivo de ganhar peso e à recusa em aceitar a condição patológica, o que dificulta ainda mais o sucesso do tratamento.Temos muito o que falar sobre a Ana...

Neste exato momento, milhares de jovens estão em frente a um espelho em suas casas, achando-se gordas e inadequadas e, como solução, recusam-se a comer ou exercitam-se intensamente, por horas. Elas se veem gordas, apesar de estarem muito abaixo do seu peso corporal ideal (o índice de massa corporal -IMC- de uma adolescente anoréxica é inferior a 17).

Certa vez, uma mãe me perguntou como a filha conseguia acreditar estar gorda, se seu IMC era 16.  E essa é a parte importante desse tratamento, que é promover uma psicoeducação para os familiares acerca do transtorno, visto que sem a compreensão e o apoio da família as chances de sucessos são ainda menores.

Para responder à pergunta da mãe, precisei contar a história de como construímos nossa imagem corporal ao longo da infância e que ela é definida por percepções, pensamentos e sentimentos ligados a nosso corpo. Sendo assim, estamos diante de uma construção completamente subjetiva.

No caso da anorexia nervosa, compreendemos que há um sistema disfuncional de autoavaliação pessoal. Para essas adolescentes em questão, o valor pessoal está atrelado a ter um baixo peso e uma imagem perfeita. É o que na terapia cognitiva comportamental chamamos de crenças distorcidas, ideias sobre si mesma que não condizem com a realidade da pessoa.

Enquanto Psicóloga, o meu difícil papel é conduzir essas pacientes numa jornada de correção dessas crenças erradas sobre si. É um desafio, considerando que do outro lado está a internet e, nela, os sites que incentivam o transtorno, convertendo-o quase numa religião, o que dificulta ainda mais o meu trabalho e dos demais profissionais.

Precisamos falar sobre Ana afim de promover prevenção e mais adesão ao tratamento.
Precisamos falar aos pais, a fim de auxiliá-los na árdua tarefa de educar filhas com forte senso de identidade e valor próprio.Precisamos promover espaço de discussão com adolescentes acerca das demandas da puberdade, que podem parecer excessivas e, em função disso, muitos buscam refúgio na preocupação excessiva com o peso e os alimentos. Podem até mesmo regredir à infância, por medo de lidar com as responsabilidades que o mundo adulto exige.

Acredito no poder da informação saudável, combatendo esse fenômeno de sites incentivadores da anorexia nervosa.Este texto é parte desse meu desejo de ser canal desse tipo de informação.

Encerro lembrando de Mário Quintana, que escreveu que os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas, os só livros mudam as pessoas (REVER ESTA FRASE...FICOU SEM SENTIDO A PARTE FINAL)


Ana Spenciere 

Psicóloga  Clínica 

Formada há 12 anos pela PUC - GO e pós Graduada em Terapia Cognitiva Comportamental.

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