Brasileiro cria "WhatsApp para terapia" por R$ 300 ao mês

16:49


São Paulo – E se você pudesse conversar com o seu psicólogo ao longo do mês apenas abrindo um aplicativo no seu smartphone?

Um empreendedor brasileiro criou uma plataforma que conecta psicólogos e pacientes por mensagens de texto, funcionando como uma espécie de WhatsApp da terapia.

O app é chamado Fala Freud e poderá ser usado em todo o território nacional, colocando psicólogos do sudeste para atender pacientes do centro-oeste e vice-versa.

Criado por Yonathan Yuri Faber, ele tem o objetivo de levar o atendimento psicológico para locais em que não existem muitos psicólogos ou para pessoas que não têm dinheiro para pagar por sessões de terapia.

A mensalidade do Fala Freud é de 300 reais. Metade desse valor fica com o psicólogo que presta o atendimento via aplicativo, enquanto o restante fica com a empresa de Faber.

Semanalmente, os psicólogos precisam escrever relatórios sobre o progresso dos pacientes. Antes do início do atendimento, o psicólogo-chefe da plataforma faz uma triagem para identificar se a pessoa tem ou não perfil para ser atendida por meio do app.

Por exemplo, pessoas com distúrbios psicológicos graves não poderão ser clientes do aplicativo, pois precisam de um atendimento presencial.

O aplicativo, entretanto, ainda divide opiniões de psicólogos.

"O atendimento, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não irá substituir o da terapia presencial, ele será baseado em uma orientação, um acolhimento e que com certeza ajudará muitas pessoas a evoluírem e se tornarem cada vez mais inteligentes emocionalmente. Aqueles casos em que realmente houver necessidade de um acompanhamento intenso indicaremos a terapia tradicional", afirmou Dayane Costa Fagundes, psicóloga que atenderá pacientes por meio do Fala Freud. "Muitas pessoas tem dificuldades e estigmas para ir a um consultório terapêutico, outras têm receio em falar frente a frente com alguém sobre seus problemas."

Já a psicóloga Renata Paula Monticcelli tem uma visão cética em relação ao aplicativo.

"A fala ou a escrita não detecta emoções verdadeiras. Elas podem ser mentirosas. Na terapia, a pessoa se defende, se justifica e fala coisas que às vezes fazem sentido, às vezes não. Se o profissional interpretar a linguagem corporal, ele pode entender melhor os sentimentos verdadeiros do paciente. A escrita é subjetiva. Não tem como eu por minha mão no fogo dizendo que o que eu escrevo será interpretado da maneira que eu quero", declarou a profissional, que tem 35 anos de experiência em atendimento psicológico.

"Na terapia, é preciso ter vínculo com a pessoa. Não é como abrir uma geladeira quando você precisa de alguma coisa", disse Renata.

Faber, fundador do Fala Freud, sabe que existe uma resistência por parte dos psicólogos, mas acredita que as gerações de profissionais mais jovens irão se adaptar bem ao atendimento via app. Ele cita o exemplo do bem-sucedido Talk Space, um aplicativo semelhante que oferece orientação psicológica a pacientes nos Estados Unidos.

"A psicologia ainda é uma ciência muito moderna. A geração de psicólogos que temos hoje no Brasil já é muito antiga. Essas pessoas cresceram na era da TV e não na era do smartphone. Quando você entrega esse aplicativo na mão de uma pessoa como essa, ela o enxerga com outros olhos. Mas toda ciência evolui", afirmou Faber.

O Conselho Federal de Psicologia deixa claro que o aplicativo não substitui a terapia presencial.

"O atendimento clínico, a psicoterapia em si, não é recomendável via aplicativos, Skype ou métodos semelhantes. Do ponto de vista de uma terapia, isso não é regulamentado, está vedado. Não é possível fazer atendimentos via app ou Skype", afirmou Rogério Oliveira, conselheiro do Conselho Federal de Psicologia.

"A psicologia vai além de conceitos simples, como escuta ou fala. A psicologia tem diversos conceitos do atendimento clínico que vai muito além do senso comum. Isso é uma barreira para as tecnologias atuais", declarou Oliveira.

O Fala Freud tem previsão de lançamento o final de julho, com 50 psicólogos, entre os mais de 2 mil interessados em participar do app. No entanto, ele ainda precisa de uma parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia.

"O app precisa passar pelo crivo do Conselho para que os profissionais não cometam falta ética, o que pode levar a uma cassação do registro, bem como para que pessoas que não são psicólogos não atendam pacientes de forma fraudulenta", segundo Oliveira.

Fonte: Lucas Agrela para Exame.com

Leia Também:

0 comentários

Conte-nos o que você achou desta postagem!